Crônica
Eles amam odiar Maringá
Do padre Orivaldo Robles:Crônica
Eles amam odiar Maringá
Do padre Orivaldo Robles:Eu ia para Alto Paraná. Desde setembro, minha família morava lá. Morar ali ou em Maringá, para mim, era quase a mesma coisa. Eu estudava em Curitiba. Férias de fim de ano eu passava parte em casa, parte na residência episcopal. Assim chamávamos a casa de Dom Jaime, na Rua Lopes Trovão, atrás do Hospital Santa Rita. Maringá ainda era um monte de casas de madeira. Para o bispo, empossado em 24 de março de 1957, providenciaram uma de alvenaria. Em função da necessidade, foram-lhe acrescentando novos cômodos. Alguns nunca recebiam luz do sol. Nem secretário o bispo tinha. Eu concluíra o curso ginasial e era bom em latim. Ele apreciava a ajuda que eu lhe podia dar. Como traduzir para a Santa Sé o relatório sobre a vida da diocese. Na época, o documento tinha que ser remetido em latim. Em 1963 comecei a Teologia. Foi quando minha família veio para Maringá.
Que mágica atração exerce esta cidade? Revolvo lembranças antigas como gravuras em sépia. Amareladas, baças, encardidas, porém intensas. Maringá não revelou, no início, a plástica de uma jovem esfuziante de beleza. Nasceu roceira, vestida de verde e cheirando a mato. Acanhada e suja de terra, lentamente foi mostrando seu dengo de mulher vaidosa. Com dez anos, despertou em mim um amor rústico, mas sincero. Como o dedicado a uma irmã caçula, que a gente ajuda a criar. Quem dá a mão para firmar os passos da infância vai sempre sentir uns laivos de ciúme. E revolta, às vezes.
Domingo passado cheguei à Catedral, como sempre, às seis e vinte da manhã. Contornei-a pelo lado do Parque do Ingá. É de chorar o tratamento dado à menina que vimos crescer. Já me falaram que foi infeliz a reforma da Praça da Catedral. O que não era grande coisa ficou pior. Reduziu-se a cobertura verde e aumentou-se o calor. Quem sou eu para dar palpite? Não sou arquiteto nem urbanista. Sou só um apaixonado por esta cidade.
Mas uma coisa é clara: alguns amam odiar Maringá. Está evidente na sujeira dos espelhos d’água e suas muretas, nas garatujas dos grafiteiros, nos cascos vazios de bebidas e outras imundícies despejadas na praça. Não dá vergonha e uma raiva de doer?
Jamais fiz algo grandioso. Faço o pouco de que sou capaz pelo bem de Maringá. Sei que não sou o único indignado com quem chegou outro dia, não move um dedo pela comunidade e se mete grosseiramente a depredar a cidade que construímos.
Todos os dias a Catedral recebe visitantes de várias procedências Olham, fotografam, filmam. De volta para suas cidades, talvez pensem: “Que povo estranho. Ergue um monumento que projeta internacionalmente sua cidade. Depois, suporta desordeiros que transformam sua praça em pocilga”.
Muito estranho, sem dúvida.
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